terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SITUACIONAUTAS #1 - Fortaleza

Inventando Situ-Ações Performativas e navegando por trajetórias entre signos no espaço público urbano.


DESCRIÇÃO
Prospecção cênica em ambientes urbanos de intensa circulação de pedestres onde os performers executam partituras de Situ-Ações Performativas que interagem e interferem na “coreografia do cotidiano”.
As Situ-Ações Performativas criadas levam em consideração o espaço físico o qual se propõe intervir, estabelecendo, assim, uma relação não só com a arquitetura e tecido urbano, mas principalmente com os transeuntes que circulam nesses espaços. Ocupam-se da exploração da dimensão física, social e mental do corpo em relação com o cenário material da vida, isto é, a relação do corpo com a urbanística e a arquitetura e os comportamentos provocados nessa relação.
Esses modelos práticos de performance, têm a atenção centrada nos espaços urbanos de intensa circulação de usuários, pois, o objetivo é interagir com “público ocasional”, partindo de Situ-Ações que rompem e refletem o cotidiano do pedestre.
Estes eventos-ações serão projetados em função do espectador (público-vivenciador-ocasional), propondo-lhe uma rara experiência fenomenológica e crítica da realidade.
Trata-se da realização de intervenções-obras-experiências pontuais e efêmeras, mergulhadas em observações sociológicas, filosóficas e políticas. Experimentos que associam estética com ética.
Para tanto, propomos engendrar durante 4 semanas (entre 9 de outubro e 7 de novembro) 4 performances que estabeleçam um amplo diálogo com o espaço público urbano (quadrilátero formado pela Avenida Dom Manuel, Avenida Duque de Caxias, Avenida Tristão Gonçalves e Rua Castro e Silva) da cidade de Fortaleza e seu habitante.
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performance-1 HOMO CONSUMIBILIS: 4 performers partem de um mesmo local (Praça dos leões) e derivam pelo centro comercial da cidade de Fortaleza.
Trata-se de uma intervenção-obra-experiência móvel, visual, imediata, pontual e efêmera que propõe interferir no cotidiano de maneira sutil e intimista.
Na performance HOMO CONSUMIBILIS os performers atravessam um mar de produtos (centro comercial de Fortaleza) carregando entre os dentes vários cartões de credito. O cartão de crédito representando um símbolo da supermodernidade, símbolo que permite o acesso, comprova a identidade e autoriza movimentos impessoais.
Neste mar de produtos, nesta tirania oral, o HOMO CONSUMIBILIS não encontra o que deseja, mas deseja tudo o que encontra.
Uma performance que trata da crise do sujeito contemporâneo imerso em “áreas exclusivas para orgias de consumo” (centro comercial da cidade de Fortaleza). Áreas em expansão, cidade-mundo, cidade-shopping, cidade-oferta de mercadorias que se abate qual avalanche sobre os sujeitos, impedindo-os de se saberem como sujeitos.
O Shopping, em seu sentido amplo, diz Koolhas, tornou-se o paradigma de crescimento das cidades a nível mundial, e a cidade de Fortaleza não poderia escapar desse movimento geral de crescimento e subsistência da cidade enquanto shopping.


Desde os anos 70 o pensador Jean Baudrillard contestou a formação de uma sociedade baseado em vitrines e shopping centers. Na obra “Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas”, de 1970, o filósofo francês mergulha fundo na dinâmica dos objetos no mundo contemporâneo e os relaciona ao universo das compras: “É preciso deixar claro desde o início que o consumo é uma forma ativa de se relacionar (não só com objetos, bem como com a sociedade e o mundo), uma forma de atividade sistemática e resposta geral que sustenta nosso sistema cultural como um todo”. Ele mostra na obra de que maneira as grandes empresas forjam irrepreensíveis “desejos”, criando novas hierarquias que substituem as tradicionais diferenças de classes. O ato de comprar, de ter coisas, transforma-se dessa maneira em um novo mito tribal, a moral dos tempos modernos.
A idéia é mostrar a permanente recriação de indivíduos consumidores, permanente recriação que assegura a continuidade do sistema capitalista contemporâneo.


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Performance-2 ESTUDO DE AMBIENTES EXTERNOS E SENSAÇÕES INTERIORES; UMA REFLEXÃO SOBRE A ARQUITETURA DA SOLIDÃO: Está performance é articulada como uma espécie de coreografia que é lançada no espaço público urbano, onde 4 performers são programados com instruções para realizar 3 Situ-Ações Performativas.
A idéia é partir do Parque da Liberdade e sequir por um trajeto pré-estabelecido dentro do quadrilátero formado pela Avenida Dom Manuel, Avenida Duque de Caxias, Avenida Tristão Gonçalves e Rua Castro e Silva.

1ª Situ-Ação Performativa
4 performers executam 4 movimentos iguais, simples, rígidos, lentos e contínuos em momentos e espaços diferentes.
Movimento 1
Os performers andam naturalmente pelo ambiente, param em espaços selecionados e ficam totalmente estáticos.
Movimento 2
Os performers descem lentamente ate o chão e sentam-se.
Movimento 3
O cotovelo apóia-se na perna, a coluna curva-se, o rosto inclinado caído sobre a mão expressa a palidez, e o olhar,perdido no infinito.
Uma sensação? Frio.
Um sabor? Amargo.
Uma Cor? Preto.
Um Desejo? A Inércia Completa.
Movimento 4
Os performers saem da postura e andam naturalmente pelo ambiente.

2ª Situ-Ação Performativa
4 performers executam 3 movimentos iguais, simples e em tempo natural em momentos e espaços diferentes.
Movimento 1
Os performers andam naturalmente em ambientes urbanos de intensa circulação de pedestres e param em espaços selecionados de cara para parede.
Movimento 2
De cara para parede os performers ficam totalmente estáticos chamando a atenção para a imobilidade de seus corpos em um ambiente em constante movimento.
Movimento 3
Os performers saem da postura que estavam e andam naturalmente pelo ambiente.

3ª Situ-Ação Performativa
4 performers executam 3 movimentos iguais, simples e em tempo natural em espaços e momentos diferentes.
Movimento 1
Os performers andam naturalmente em ambientes urbanos de intensa circulação de pedestres, param em espaços selecionados e ficam totalmente estáticos.
Movimento 2
Os performers fecham os olhos e em seguida puxam grandes punhados de cabelo repetida e vigorosamente.
Movimento 3
Os performers saem da postura e andam naturalmente pelo ambiente.

Apontamentos:
Recomenda-se que os performers não teatralizem as Situ-Ações, mas que concentrem-se em “levar um tempo natural” e as vezes uma “tempo extra” para realizar os movimentos.
A instrução é movimentar-se dentro de uma lógica interna, totalmente absorvido no pensamento de que seu corpo movimenta-se de maneira natural e as vezes o mais lento possível.
A imobilidade é essencial em alguns momentos dessa performance, pois o objetivo é explorar através do quadro vivo o potencial dramático da imobilidade e a percepção do espaço através do não-movimento.
O que a performance Estudo de Ambientes Externos e Sensações Interiores; Uma reflexão sobre a Arquitetura da Solidão propõe suscitar não são sensações incomuns.
A estimativa do numero de casos mundiais de depressão feita pela Organização Mundial da Saúde, estima que em maior ou menor grau, nada menos que 340 milhões de pessoas têm momentos como estes.
A função representacional da performance ESTUDO DE AMBIENTES EXTERNOS E SENSAÇÕES INTERIORES; UMA REFLEXÃO SOBRE A ARQUITETURA DA SOLIDÃO consiste em oferecer corposignos, imagens que serão vistas por quantidades consideráveis de pessoas projetando a problemática da depressão.


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Performance-3 SUJEITOS E SUJEITADOS – CARTOGRAFIAS DO PODER: Esta performance trabalha com a idéia de apropriação sígnica espacial, um tipo de performance em paisagem urbana. A experiência é visual e imediata. Uma performance que permanece como forma, cuja forma deriva do nome da performance - SUJEITOS E SUJEITADOS -. Nesta performance os SUJEITOS são configurações de obras representativas que se baseiam no princípio da estetização de poder. Os SUJEITOS podem ser definidos como lugares identitários, relacionais e históricos que servem de referência para toda a comunidade. Podem ser definidos também como Supralugares (Surluogo, no original italiano). O Supralugar é onde se manifesta o poder no espaço, ação estratégica do poder no tecido conectivo da metrópole; é o meio mediante o qual o poder do desejo é desarmado, a mentalidade da passividade e do mandato se constrói. A cidade passa a ser, assim, um retículo de trajetórias que ligam esses lugares entre si (cartografia do poder).

Estas configurações arquitetônicas são apropriadas e utilizadas como cenário-personagem por 4 performers que se instalam e desenvolvem uma representação imaginária, interpretando uma narração do corpo, e de seu comportamento símbolo de sua sujeição a esses equipamentos urbanos.
Os lugares individualizados a partir de “andanças metódicas” feitas à priore foram: Igreja Catedral, Igreja Show da Fé, Igreja Universal do Reino de Deus, Fórum Autran Nunes, Igreja do Carmo, Banco do Brasil, B.N.B., SEFIM, Praça da Polícia Civil, Tribunal de Contas do Estado, Igreja Coração de Jesus, T.R.E., C.D.L., Banco Central.
O objetivo desta performance é evidenciar-provorar a cartografia dominante: instalados nela, os performers (SUJEITADOS) ganham uma existência na paisagem, agora não mais passível de ser ignorada, e a relação entre SUJEITOS E SUJEITADOS não pode ser denegada. A força do resultado formal, tanto na escolha dos corpos quanto em sua disposição nos espaços escolhidos, é inseparável da problematização que a Situ-Ação opera, seu efeito provocativo.



Cartografia do Poder #1

Cartografia digital produzidas com o software Walkingtools, este possibilita a programação de cartografias digitais para serem instaladas em celulares que possuam GPS-Integrado, acionando imagens e sons em determinados pontos da cidade.
Para percorrer está cartografia e ver imagens da performance, basta clicar no link abaixo, fazer o download do arquivo e instalá-lo no celular.

https://rapidshare.com/files/3120725647/SujeitoSujeitados.jar

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Performance-4 O TEMPO DAS COISAS: Parte da apropriação sígnica-espacial do monumento da Praça do Ferreira para se estabelecer em cena e criar um conjunto imagético que reflete a relação homem-tempo-mercadoria em conexão direta com o cotidiano do espaço e do habitante deste espaço.
Esse tipo de performance apropria-se e instala-se num local fixo, favorecendo maior interatividade do público com a obra, pois, a característica tridimensional plástica desse trabalho que se realiza em espaço circundado, possibilita ao “espectador” observá-lo sob diversos ângulos, interagir ou ir embora.
Serão explorados do monumento, o seu significado, a sua espacialidade, a sua plasticidade como elementos constituintes da performance.

Redescoberta a cena discreta da natureza, suas luzes e sons, afinam-se e fundem-se os limites entre paisagem natural e urbana, vida cotidiana e poesia.
O Objetivo é refletir-discutir sobre como os homens transformam seu tempo de vida em mercadoria, como simples matéria-prima que precisa ser otimizada: “Tempo é dinheiro!”.
4 performers presos ao monumento, interferem no lugar e interagem com o espaço, partindo de um modelo performativo, cujo objetivo é abordar os habitantes (público-vivenciador-ocasional) com uma pergunta-provocação: Você quer me vender o seu tempo?
Depois de estabelecido o contato e de interações verificadas em possibilidades, os performers intentam ainda provocar com um poema:

Corre-corre (Airton Lima)
Menino que cresce
E nem se percebe
Nesse corre-corre

De baixo pra cima
De cima pra baixo
Nesse corre-corre

Tudo faz de conta
Sem nunca dar conta
Nesse corre-corre

Espanta, encanta
tropeça, faz queda
Nesse corre-corre

Menino que cresce
E nem se percebe
Temos pouco tempo
Veja se não corre


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PERCEPTOS
Na arte contemporânea a cidade é cada vez mais objeto de intervenções de artistas. Mais do que estar nas ruas levando a obra para um público amplo, o pensamento que funda este projeto surge da interpretação da arquitetura e da organização espacial, buscando desvelar e renovar os sentidos dos lugares. A intervenção artística funciona como um elemento questionador e vitalizador da vida urbana.
O ponto de partida deste, sem embargo, é que os espaços físicos sempre são espaços sociais e, do mesmo modo, as atribuições de significação também estão estruturadas por fatos sociais.
É da união entre artista e vínculo social que as novas formas estéticas são ampliadas, ultrapassando uma mera transmissão de dados informativos e históricos, ou apenas satisfazendo a demanda de uma “novidade artística” comprometida com a tendência do momento.
Propõe a cada indivíduo outras perspectivas para perceber o espaço da cidade, percebendo-se dentro dela.

Pesquisa, invenção e realização: Coletivo Curto-Circuito
Performers: Airton Lima, David da Paz, George Sander, Naiana Cabral e Tathiane Paiva.
Registros: Ítalo Rodrigues
Produção Executiva: Escola de Bens Imateriais
Ano: 2010